Bahnhof Zoo: A estação que se tornou famosa por causa de Christiane F.

No início dos anos 1980 um livro autobiográfico que contava a história de uma adolescente viciada tornou-se um best-seller em diversos países. No Brasil, o livro intitulado “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída“, também foi um sucesso. Lembro que uma das minhas irmãs tinha o livro, mas eu não cheguei a ler pois ainda era muito criança. Mas o título do livro que já denota seu conteúdo principal ficou na minha cabeça. Depois de um tempo morando em Berlim vi uma reportagem na TV sobre a Christiane e como ela estava naquela época. O nome “Christiane F.” me era conhecido e achei super interessante saber mais sobre sua vida após o livro e também conhecer a face da pessoa por trás do personagem do livro.  

O livro conta a história da jovem alemã Christiane Felscherinow e o título original em alemão  é “Wir Kinder vom Bahnhof Zoo”, que em uma tradução literal seria “Nós, crianças da estação Zoo”, pois era nesta estação de trens e metrô que a adolescente e sua turma viveram muitas das experiências relatadas no livro. E sem dúvidas, a estação ficou marcada para quem leu o livro e conhece a história – lembro que seguidores do SimplesmenteBerlim já me perguntaram sobre a “estação da Christiane F.”.

Nestes últimos dias o tema ressurgiu e voltou a ser noticiado, pois a história da “Christiane F.” foi refilmada e lançada pela Amazon Prime em forma de mini-série com 8 episódios.  

Tours em Berlim em Português

A história de Christiane F.

Christiane, cujo nome completo é Christiane Vera Felscherinow, nasceu em Hamburgo e em 1968, com 6 anos de idade se muda com sua família para Berlim. Naquela época a cidade estava dividida em duas: uma parte Ocidental e capitalista; outra parte Oriental, socialista e isolada pelo Muro de Berlim.

A família de Christiane se muda para Berlim Ocidental e tem a intenção de abrir uma agência de casamentos. Inicialmente moram em um espaçoso apartamento no bairro de Kreuzberg, mas logo depois os planos fracassam e a família vai morar em um pequeno apartamento em Gropiusstadt, uma parte do bairro Neukölln formada por conjuntos habitacionais para a população de baixa renda. O prédio onde a família mora se encontrava na divisa da cidade, na beira do Muro de Berlim.

Os conjuntos habitacionais na Gropiusstadt (Fonte: www.welt.de)

Com 12 anos de idade Christiane passa a frequentar um centro para jovens da igreja protestante, onde usa drogas pela primeira vez. À partir daí passa a consumir drogas (maconha, LSD) e medicamentos (Valium, Mandrix, ) regularmente. Apesar da pouca idade, com sua turma passa a frequentar a discoteca Sound. Depois de um show de David Bowie, Christiane usa heroína pela primeira vez e se vicia na droga com apenas 14 anos de idade.

Para financiar o vício, Christiane, assim como seus amigos, passa a se prostituir na área da estação Zoo – ponto de encontro de pessoas com problema de droga. Jogada no vício, Christiane quase não dá mais as caras em casa e a mãe chega a registrar seu desaparecimento. Depois de ser presa, a mãe foi buscá-la na delegacia e decidiu tirá-la de Berlim, levar para outra cidade onde pudesse se afastar das drogas e se desintoxicar. Depois de três anos de ausência, ela volta a frequentar a escola regularmente.


A capa do livro em alemão (Fonte: www.bz-berlin.de)

Mas em 1978 a jovem precisa voltar a Berlim para testemunhar em um processo. Lá, seu depoimento chama a atenção dos jornalistas Kai Hermann e Horst Rieck que a convidam para uma entrevista. O que seria uma entrevista, acabou se transformando em um livro que foi publicado em 1978 e virou um grande sucesso. Em 1981 o livro virou filme também e se tornou o filme alemão de maior sucesso nos anos 1980. Christiane e sua trágica história chocou a Alemanha e ganhou fama internacional.

De lá para cá Christiane já teve diversas recaídas e tentou a vida como cantora e atriz (sem grande sucesso) e já se mudou da Alemanha algumas vezes. Em outubro de 2013 lançou seu segundo livro autobiográfico intitulado “Christiane F. – Mein Zweites Leben”  (em tradução literal: Christiane F. – Minha segunda vida”. Título no Brasil: Eu, Christiane F.: A vida apesar de tudo).      

A estação Zoologischer Garten

A estação Zoologischer Garten, cujo nome se deriva do jardim zoológico que fica nas suas imediações, se localiza no bairro Charlottenburg. A estação, que também é comumente chamada de estação Zoo, foi aberta em 1882. Nesta época, Charlottenburg não era um bairro de Berlim, mas  ainda uma cidade independente.

A partir de 1884, a estação que ganhou mais uma plataforma, passa a receber trens suburbanos e de longa distância. Em 1902 entrou em operação uma linha de metrô subterrâneo (a linha que hoje em dia é chamada de U2) com passagem pela estação Zoologischer Garten.  Como preparativo para os jogos olímpicos de 1936, a estação passa, à partir de 1934, por uma grande reforma e obras de expansão da plataforma para trens de longa distância.

A estação Zoologischer Garten

Com a divisão da cidade após a Segunda Guerra Mundial, dos anos 1950 até a queda do Muro de Berlim, a estação Zoologischer Garten funcionou como a estação central de Berlim Ocidental. Com a queda do muro e reunificação da cidade/país bastante coisa mudou. Uma nova e moderna estação central foi construída e inaugurada em 2006. Com isto, trens de longa distância não se servem mais da estação Zoologischer Garten. Por ela, hoje passam linhas de metrô subterrâneo e de superfície, assim como trens regionais.

Nos anos 1970 e 1980, a estação era um ponto de encontro do público alternativo da cidade. Na rua lateral da estação, na Jebensstraße, os viciados em drogas passavam seu tempo e também se prostituíam. E é o dia-a-dia destes jovens viciados nesta estação que é tematizado e relatado no livro “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída“. Assim, por causa do livro sobre Christiane e sua turma, a estação Zoologischer Garten ganhou fama nacional e até internacional.

Por meio de ações policiais no final dos anos 1980 a situação na estação Zoologischer Garten e no seu entorno melhora bastante – hoje as áreas problemáticas de Berlim com a questão das drogas são em especial o parque Görlitz e a estação Kottbusser Tor, ambos no bairro Kreuzberg. Nos últimos anos, prédioss novos e chiques – como o hotel Waldorf Astoria e o prédio Upper West Side – foram construídos em ruas próximas da estação Zoologischer Garten.

Porém, como é comum em muitas cidades grandes, as  áreas de grandes estações de metrô/trem concentram sem-tetos, mendingos e muitas vezes viciados (seja em drogas ou álcool). E assim é também a área da  estação Zoologischer Garten hoje em dia – há muitos sem-teto por lá. Inclusive, o local onde funcionava uma unidade da polícia – na qual Christiane diz em seu livro  ter passado algumas vezes – foi transformado recentemente em um centro para sem-teto. Lá as pessoas podem receber orientação e ajuda. Este novo centro é um complemento para um serviço humanitário que já funciona na Jebensstraße.

Mas via de regra, hoje em dia a estação Zoologischer Garten é um ponto de entrocamento de muitas linhas de transporte público, com muitas pessoas circulando diariamente – inclusive bastante turista que visita a cidade.

Compre seus ingressos antecipadamente para as atrações mais populares de Berlim

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here