Em 1919 é criada na cidade de Weimar-Alemanha a Escola Bauhaus, que acabou deixando de ser uma simples escola de design e passou a ser um movimento artístico, tendo revolucionado a estética e o design moderno.
Arquitetos Bauhaus também deixaram sua marca em Berlim, especialmente em alguns conjuntos residenciais, sendo alguns deles declarados em 2008 pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade.
A característica típica da arquitetura Bauhaus, que é tão famosa e em demanda hoje, é a estrutura funcional dos edifícios. A estética da arquitetura segue a funcionalidade.
Estes conjuntos habitacionais de Berlim foram construídos entre a metade dos anos 20 e a metade dos anos 30.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, nos primeiros anos da República de Weimar, a falta de moradia era um problema em Berlim. Por um lado, a cidade atraiu muita gente pois foi um período cultural muito fértil, com os chamados “Anos 20 Dourados”.
Por outro lado, a cidade recebe os que regressam da guerra e muitos que foram expulsos de onde moravam uma vez que Alemanha sendo derrotada na guerra perdeu territórios. Na época calculou-se que seria necessário 350 mil novas habitações para suprir a demanda de moradias.
Além disto, a classe operária e pessoas de baixa renda moravam em habitações apertadas e em condições precárias e com falta de higiene – cômodos sombrios, com ventilação ruim, muitos sem água encanada ou banheiros.
Desta forma era necessário construir novas habitações com baixo custo, mas que oferecessem condições dignas de moradia.
A solução foi criar grandes conjuntos habitacionais e assim, durante a República de Weimar, surgem as primeiras habitações sociais. Muitos destes conjuntos habitacionais são planejados por arquitetos Bauhaus.
Vamos conhecer a herança Bauhaus deixada em Berlim:
– Hufeisensiedlung
Este conjunto habitacional, que traduzindo seu nome significa “Conjunto Habitacional da Ferradura” se localiza no bairro Neukölln. Seu nome se deve ao prédio central que tem o formato de uma ferradura.
O Hufeisensiedlung foi planejado pelo arquiteto Bruno Taut juntamente com Martin Wagner e o arquiteto paisagista Leberecht Migge, tendo sido construído mais de 1200 moradias – entre apartamentos e sobradinhos com jardim – nos anos de 1925 a 1930.
Desde 1986 este conjunto é tombado. Houve uma 7a. fase de construção entre 1932 e 1933, mas esta parte do conjunto não faz parte do patrimônio cultural.
Ruas do Conjunto Habitacional Hufeisensiedlung:
Buschkrugallee, Dörchläuchtingstraße, Fritz-Reuter-Allee, Gielower Straße, Grüner Weg, Hüsung, Jochen-Nüßler-Straße, Liningstraße, Lowise-Reuter-Ring, Miningstraße, Onkel-Bräsig-Straße, Parchimer Allee, Paster-Behrens-Straße, Stavenhagener Straße, Talberger Straße
– Großsiedlung Siemensstadt
A Siemensstadt, ou „Cidade da Siemens”, é um grande complexo composto por prédios industriais e residenciais. Os prédios residenciais foram construídos entre 1929 e 1934 com o objetivo de oferecer uma moradia aos operários de baixa renda da fábrica – tendo sido construído mais de 1300 moradias.
Este conjunto habitacional se localizada no norte do bairro Charlottenburg e foi um projeto dos arquitetos Hans Scharoun, Walter Gropius, Otto Bartning, Fred Forbat, Hugo Häring e Paul R. Henning.
O conjunto habitacional da Siemensstadt também parte do patrimônio cultural da humanidade, declarado pela Unesco em 2008.
Ruas do Conjunto Habitacional Siemensstadt:
Geißlerpfad, Goebelstraße, Heckerdamm, Jungfernheideweg, Mäckeritzstraße
– Wohnstadt Carl Legien
Localizado no bairro de Prenzlauer Berg, o conjunto habitacional Carl Legien foi construído de 1928 a 1930. O conjunto leva o nome do primeiro líder sindical alemão.
O conjunto que leva a assinatura dos arquitetos Bruno Taut e Franz Hillinger conta com mais de 1.100 apartamentos. O Carl Legien é outro conjunto habitacional que faz parte do patrimônio cultural da humanidade da Unesco.
Ruas do Conjunto Habitacional Carl Legien:
Erich-Weinert-Straße, Georg-Blank-Straße, Gubitzstraße, Küselstraße, Lindenhoekweg, Sodtkestraße, Sültstraße, Trachtenbrodtstraße
– Siedlung Onkel Toms Hütte
O conjunto habitacional Onkel Toms Hütte localiza-se no bairro Zehlendorf nas proximidades da floresta Grunewald, motivo pelo qual lhe faz ser conhecido também como Waldsiedlung Zehlendorf.
(Wald= floresta, mata; Siedlung= conjunto habitacional; Zehlendorf= bairro). Este é mais um projeto de Bruno Taut em conjunto com os arquitetos Hugo Häring e Otto Rudolf Salvisberg.
Entre 1926 e 1932 foram construídos 1.100 apartamentos em prédios de 2 e 3 andares e 800 sobradinhos.
Uma característica marcante do projeto foi cor – as fachadas foram pintadas com cores vibrantes, o que no primeiro momento fez o conjunto ser chamado desdenhosamente de “Conjunto habitacional papagaio”, mas hoje em dia os moradores se orgulham das suas casas. Em 1995 o conjunto habitacional Onkel Toms Hütte foi tombado.
Ruas do Conjunto Habitacional Onkel Toms Hütte:
Am Fischtal, Am Fuchspaß, Am Hegewinkel, Am Lappjagen, Am Wieselbau, Argentinische Allee, Auerhahnbalz, Eisvogelweg, Hochsitzweg, Hochwildpfad, Holzungsweg, Im Gestell, Onkel-Tom-Straße, Reiherbeize, Riemeisterstraße, Treibjagdweg, Waldhüterpfad, Wilskistraße
– Siedlung Schillerpark
O Conjunto Habitacional Schillerpark, que também faz parte do patrimônio cultural da humanidade da Unesco, localiza-se no bairro Wedding e leva este nome devido ao parque que se encontra nas imediações.
Antes da Primeira Guerra já havia a intenção de construir habitações neste mesmo local, mas com a guerra os planos foram paralisados. Com o fim da guerra e a falta de moradia na cidade, este foi o primeiro conjunto habitacional a ser construído na República de Weimar, entre os anos 1924 e 1930.
O arquiteto do projeto, que conta com quase 300 apartamentos, foi Bruno Taut. Bruno inspira-se na arquitetura holandesa, sendo os prédios de tijolhinhos à vista.
Ruas do Conjunto Habitacional Schillerpark:
Barfusstraße, Bristolstraße, Corker Straße, Dubliner Straße, Oxforder Straße, Windsorer Straße
– Weiße Stadt
O conjunto “Cidade Branca”, como é a tradução literal de seu nome encontra-se no bairro Reinickendorf e acabou ganhando este nome por causa da cor branca da fachada dos prédios.
Os planos para um conjunto habitacional em Reinickendorf já existiam antes da Primeira Guerra, mas o projeto acabou sendo realizado somente depois, entre os anos 1929 e 1931, quando foram construídos mais de 1200 apartamentos.
De forma que os moradores tivessem uma infra-estrutura por perto, como parte do conjunto foram planejados lojas, consultórios e jardim de infância – conceito até então inédito.
O projeto da “Weiße Stadt” leva a assinatura dos arquitetos Otto Rudolf Salvisberg, Bruno Ahrends e Wilhelm Büning. E este é mais um conjunto habitacional que foi declarado patrimônio cultural da humanidade.
Ruas do Conjunto Habitacional Weiße Stadt:
Aroser Allee, Baseler Straße, Bieler Straße, Emmentaler Straße, Genfer Straße, Gotthardstraße, Romanshorner Weg, Schillerring, Sankt-Galler-Straße
Além dos conjuntos habitacionais listados acima, algumas outras construções com a assinatura de arquitetos Bauhaus que merecem ser mencionadas:
– Mies van der Rohe Haus
Também conhecida como Haus Lemke (“Casa Lemke”), esta casa foi desenhada pelo arquiteto Ludwig Mies van der Rohe para o casal de fabricantes Martha e Karl Lemke. Este foi o último projeto do arquiteto antes dele emigrar para os Estados Unidos em 1938.
Após cerca de 1 ano de construção (entre 1932 e 1933) o casal já pode ocupar sua casa. Em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Exército Vermelho que tomou a área solicitou o casal a deixar a casa o mais rápido possível. A casa foi então usada como depósito e garagem e mais tarde a casa foi utilizada por membros da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Em 1977 a casa foi tombada e após a queda do Muro de Berlim, a administração do bairro assumiu a casa e a renomeou em Mies van der Rohe Haus (Casa Mies van der Rohe).
Hoje a Mies van der Rohe Haus é aberta ao público funcionando como museu e abrigando exposições. A casa é aberta de terça a domingo, das 11 às 17 horas. A entrada é gratuita.
Endereço da Mies van der Rohe Haus: Oberseestraße 60 – Alt-Hohenschönhausen
– Neue Nationalgalerie
A Neue Nationalgalerie (Nova Galeria Nacional) foi projetada em 1968 por Mies van der Rohe, sendo a única obra do arquiteto na Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial.
A Neue Nationalgalerie é um museu cujo acervo é dedicado às artes dos séculos XX e XXI.
Endereço da Neue Nationalgalerie: Potsdamer Straße 50
– Bauhaus-Archiv – Museum für Gestaltung
O Bauhaus-Archiv (Arquivo Bauhaus – Museu do Desgin) abriga a mais extensa coleção sobre a história da Bauhaus e mostra o resultado do seu trabalho nas artes, arquitetura e design. O museu conta com uma importante coleção de pinturas, desenhos e esculturas dos mestres e alunos da Bauhaus.
O prédio que abriga o Bauhaus-Archiv foi inaugurado em 1979 e construído com base em desenho de 1964 de Walter Gropius. Em 1997 o prédio foi tombado como patrimônio histórico.
Desde 2018 o prédio encontra-se fechado para obras de restauração e ampliação. Durante este tempo a exposição se encontra na Knesebeckstr. 1–2
Endereço do Bauhaus-Archiv: Klingelhöferstraße 14
– Kant-Garagen
O Kant-Garagen (Garagens Kant) é o primeiro edifício-estacionamento de Berlim e foi construído entre 1929 e 1930, oferecendo espaço para cerca de 300 anos. A obra é assinada pelos arquitetos Bruno Lohmüller, Oskar Korschelt e Jakob Renker em conjunto com Hermann Herrey-Zweigenthal e Richard Paulick.
O prédio foi tombado em 1991 e foi utilizado como estacionamento até 2017. A Kant-Garagen passou por reformas nos últimos anos e desde 2022 abriga o “Stilwerk” – uma espécie de shopping center de lojas de móveis, decoração e design.
Endereço da Kant-Garagen: Kantstraße 126