Em 17 de junho de 1953, cerca de um milhão de pessoas vão as ruas em Berlim Oriental e outras cidades da República Democrática Alemã para protestar contra as condições políticas e econômicas, expressando sua insatisfação com os crescentes problemas sociais, autoritarismo e repressão do governo comunista.
As causas da revolta popular na Alemanha Oriental remontam a 2ª Conferência do SED – o Partido Socialista Unificado da Alemanha (em alemão Sozialistische Einheitspartei Deutschlands) em julho de 1952, quando Walter Ulbricht, o chefe do partido, anuncia a “construção do socialismo”. Isto significa que o, já em andamento, processo de reorganização do estado, da economia e da sociedade da Alemanha Oriental de acordo com o modelo soviético será acelerado.
Após a conferência, o governo socialista intensifica a doutrinação ideológica, o culto a Stalin e a “luta de classes” contra inimigos do Marxismo-Leninismo, como a Igreja – cristãos são cada vez mais marginalizados e criminalizados. No setor da economia, é dado prioridade a expansão da indústria pesada, enquanto autônomos, comerciantes e agricultores são forçados a coletivização. As novas cooperativas de produção agrícola visam aumentar a produção, uma vez que o confisco de propriedades e a reforma agrária já em prática na metade dos anos 1940 levou ao abandono de muitas fazendas. A centralização da estrutura do estado e a militarização do país com a formação da “Kasernierte Volkspolizei” (o precursor do exército da Alemanha Oriental) também fazem parte das medidas tomadas pelo regime no processo de expansão do socialismo.
As medidas implementadas criam problemas não esperados, como crise alimentar, declínio no padrão de vida e redução na produção industrial. A priorização da indústria pesada e da indústria de armamentos ocorre às custas da produção de bens de consumo – produtos de necessidade básica tornam-se escassos. Campanhas para atrair jovens para as forças armadas desviam dezenas de milhares de jovens profissionais de todos os setores da economia – dos 55 mil homens no início de 1952, o número de soldados cresceu para mais de 90 mil em dezembro de 1952 e para 113 mil até a metade de 1953. Além disto o aumento das despesas com armamentos, como tanques, artilharia e armas, compradas em Moscou, abre outro buraco nas contas da Alemanha Oriental.
Resistência à “construção do socialismo” é reprimida – entre a metade de 1952 e o meio do ano de 1953 o número de presos políticos cresceu de 37 mil para 67 mil pessoas. A crise econômica e política leva muitos a deixarem a Alemanha Oriental – de julho de 1952 até o final de abril de 1953 cerca de 300 mil pessoas fogem para a Alemanha Ocidental.
A morte do líder soviético Josef Stalin em março de 1953 alimentou esperanças de melhoria. Entretanto a liderança do partido socialista da Alemanha decidiu em 14 de maio de 1953 mudar as normas de trabalho – os trabalhadores teriam que trabalhar mais pelo mesmo salário. Enquanto isto, a nova liderança da União Soviética que está ciente da crise na Alemanha Oriental, leva o partido socialista da Alemanha a reconhecer os erros cometidos e a seguir um “novo curso”.
Em 09 de junho de 1953 o partido socialista da Alemanha anuncia seu “novo curso” prometendo a libertação de presos políticos, a devolução das propriedades as famílias de camponeses e comerciantes, o fim da perseguição a igreja, assim como, a partir de então, o abastecimento da população deveria ser melhorado. Mas, de acordo com a vontade dos líderes da Alemanha Oriental, as mudanças nas normas trabalhistas não devem ser revertidas.
Principalmente os trabalhadores se sentem desfavorecidos com esta política. Nos dias 15 e 16 de junho já houve protestos e greves nos principais canteiros de obras em torno da Alameda do Stalin em Berlim Oriental – os operários da construção civil exigem a redução das normas de trabalho.
As manifestações continuaram no dia seguinte. Desde as 6 horas da manhã do dia 17 de junho, os trabalhadores de reúnem em diversas fábricas e empresas. As mudanças das normas de trabalho são apenas o estopim para a demonstração de insatisfação e protesto. Agora, os demonstrantes reivindicam também a renúncia do governo, eleições livres e a reunificação do país. Dos mais diversos bairros de Berlim, formam-se grupos de demonstrantes em direção a pontos de encontro na Alameda do Stalin. Por volta de 8 horas da manhã, a polícia tenta, em vão, dispersar a multidão reunida na Strausberger Platz. Os milhares de demonstrantes seguem para a “Casa dos Ministérios” na Leipziger Straße. Milhares de pessoas protestam no Portão de Brandenburgo, na Alexanderplatz e por toda a cidade. A população vai às ruas não somente em Berlim Oriental – acontecem greves e protestos em mais de 700 cidades da Alemanha Oriental.
A dimensão das manifestações sobrecarrega os líderes socialistas que deixam o comando das ações de repressão dos protestos nas mãos das tropas soviéticas. A União Soviética declara estado de emergência em 167 dos 217 municípios. As tropas soviéticas, com participação da Kasernierten Volkspolizei, repreendem os protestos brutalmente. Tanques soviéticos rolam pelas ruas de Berlim Oriental e tiros são dados. As manifestações por melhores condições de vida, por democracia e por liberdade na Alemanha Oriental custam dezenas de vidas e deixam centenas de feridos. Cerca de 15 mil pessoas são presas por conta das manifestações, mais de 1500 são julgadas e condenadas a prisão, algumas condenadas a morte.
Um grupo de pesquisa sobre as vítimas da revolta de 17 de junho concluiu que houve 55 vítimas fatais:
- 34 pessoas são mortas a tiros pelas tropas soviéticas e polícia;
- 5 homens são condenados a morte pelas tropas soviéticas e 2 por um tribunal da Alemanha Oriental;
- 4 prisioneiros cometem suícidio, outros 4 morrem em decorrência das condições sub-humanas da prisão;
- 1 demonstrante morre de parada cardíaca ao invadir uma delegacia;
- 5 integrantes dos órgãos de segurança da Alemanha Oriental são mortos: ao defender uma prisão, 2 policiais e um funcionário da Stasi são mortos a tiros por desconhecidos, um segurança é morto por uma multidão enfurecida e outro policial é morto acidentalmente por um soldado soviético.
Como reação, o governo oriental diz, já no dia 18 de junho, que as manifestações foram uma “provocação facista”. Por outro lado, os líderes da Alemanha Ocidental lembram as vítimas dos protetos em um ato no parlamento alemão no dia 21 de junho de 1953 – o mesmo não ocorre na Alemanha Oriental. Além disto, em 03 de julho de 1953, o governo ocidental declara o dia 17 de junho como “Dia da unidade alemã”, sendo feriado na data na Alemanha Ocidental até 1990. Algumas ruas de cidades da Alemanha Ocidental ainda são renomeadas para lembrar os protestos de 1953 e suas vítimas, como a rua que corta o parque Tiergarten, em Berlim Ocidental, que foi renomeada em “Rua 17 de Junho”.
Também para lembrar a data, desde junho de 2000, em frente ao prédio do Ministério das Finanças, que em 1953 abrigava a “Casa dos Ministérios” do governo oriental, encontra-se o “Memorial para os acontecimentos de 17 de junho de 1953”. Embutido no chão pode-se ver uma imagem de vidro que mostra os manifestantes a caminho da antiga Casa dos Ministérios e na lateral encontram-se painéis informativos sobre os acontecimentos de junho de 1953.
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