Um passeio inusitado: Conhecendo o cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf

Enquanto vivia no Brasil eu tinha uma má impressão de cemitérios, acho que até um certo medo mesmo (rsrsrs). Jamais seria um lugar que eu visitaria se não fosse para o sepultamento ou visita ao túmulo de algum familiar ou conhecido.

Acho que esta imagem sinistra que tinha é porque os cemitérios que conhecia tem aqueles túmulos e imponentes mausoléus muito próximos uns dos outros, muito fechado ou em outros casos somente o espaço da cova com uma cruz – sem muito gramado ou verde, ou seja, sem sinal de natureza, de vida.

Alamedas arborizadas

Daí vim morar em Berlim  e logo nos primeiros dias resolvi dar um passeio pelas imediações de onde morava. Andando por uma rua, adiante vi um monte de árvores e pensei “ah, que legal! Tem outro parque perto de casa” (pois eu já sabia e conhecia um parque nas imediações). Este “parque” tinha um portal de entrada bonito, mas nem me dei conta de ler o que estava escrito – até porque não teria entendido muito (rsrsrs), uma vez que estava começando a aprender o idioma alemão. Bem, entrei no parque, admirando as árvores, flores e o verde, mas ao prestar mais atenção comecei a ver lápides e daí me dei conta que estava em um cemitério – daí já saí imediatamente.

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Com o tempo fui vendo que boa parte dos cemitérios daqui são muito verdes, com gramados ou arbustos e árvores, muitas vezes lembrando um parque – sendo realmente até visitados por algumas pessoas como um local para fazer uma caminhada por suas alamedas arborizadas. Em geral, os túmulos são marcados por lápides de pedra ou mármore e muitos decorados com plantas e flores.

Entrada do cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf

Com estas novas impressões fui perdendo o “medo” de cemitério :-). Tanto que recentemente fui até fazer um passeio em um cemitério, no “Südwestkirchhof Stahnsdorf”. E para minha surpresa foi um passeio bem agradável. O Südwestkirchhof Stahnsdorf é um cemitério-bosque e gigantesco – em determinados pontos nem lembra ser um cemitério, a sensação que temos é que estamos no meio de uma floresta mesmo (no cemitério se encontram 200 mil árvores). E como estive lá no período de outono, estava muito bonito, com muitas folhagens em tons amarelo e alaranjado.

Monumento de Cristo

Com uma área de 206 hectares o Südwestkirchhof Stahnsdorf é o segundo maior cemitério da Alemanha (o maior é o cemitério Ohlsdorf em Hamburgo) e um dos maiores do mundo. Este cemitério pertence a comunidade evangelica-luterana de Berlim, mas se encontra fora dos limites da cidade, estando localizado na comunidade de Stahnsdorf pertencente ao estado de Brandemburgo.

Mausoléu no cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf

No cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf encontram-se os túmulos de diversas personalidades dos setores das artes, da política e das ciências. É lá que estão sepultados o escritor Theodor Fontane, o arquiteto Walter Gropius, o cartunista Heinrich Zille e Werner von Siemens, o fundador da empresa Siemens (assim como vários integrantes da família) – dentre muitas outras personalidades alemãs.

Túmulo de Theodor Fontane

Uma vez que no cemitério estão sepultados diversos ricos e famosos, encontram-se muitos túmulos e mausoléus grandiosos e imponentes – alguns parecendo pequenos templos e pavilhões da antiguidade, sendo verdadeiras obra de arte.  Inclusive, devido ao grande número de mausoléus de valor histórico e por conta do seu caráter florestal, o cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf está na lista de monumentos de Brandemburgo.

Imponente mausoléu

Alguns blocos do cemitério são dedicados a túmulos de soldados: em um bloco encontram-se os túmulos de 1650 soldados italianos mortos na 1ª. Guerra mundial.

O bloco com os túmulos dos soldados italianos

Vizinho ao bloco dos soldados italianos, encontra-se o bloco dos soldados britânicos também vítimas da Primeira Guerra Mundial, com 1172 sepulturas. Eu achei belíssimo, com as lápides branquinhas padronizadas distribuídas no vívido gramado. Inclusive, a rainha Elizabete durante uma visita a Alemanha, visitou o local em 03 de novembro de 2004 e prestou sua homenagem aos soldados.

A parte com os túmulos dos soldados britânicos
Lápides dos soldados briânicos

Do conjunto do cemitério faz parte também uma capela, construída entre 1908 e 1911, e cuja inspiração foram as igrejas de madeira da Noruega. Tanto a parte exterior como interior da capela são de madeira, sendo que o interior tem uma pintura discreta e elegante.

A igreja do cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf
O interior da capela
Detalhe do altar

 O cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf já serviu de cenário de filmes e séries nacionais e internacionais como o filme “Manifesto” com Cate Blanchett e a série Dark da Netflix, dentre outros.

Túmulo expressionista de Julius Wissinger

História do cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf

A história do cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf se inicia no início do século passado e foi também marcada pelos turbulentos acontecimentos políticos do século 20.   

Com o elevado crescimento populacional em Berlim na segunda metade do século 19 e início do século 20 surge também a escassez de locais para sepultamento dentro dos limites da cidade. Com isto, as paróquias da Associação Sinodal da Cidade de Berlim decidem comprar terrenos nos arredores da cidade para construir novos cemitérios.

Entrada do mausoléu da família Siemens
Túmulo de Werner von Siemens

E assim surge o cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf. Responsável pelo projeto foi o paisagista Louis Meyer que idealizou um cemitério com aparência natural se assemelhando a uma floresta. O cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf é aberto em 28 de março de 1909 e poucos dias depois acontece o primeiro sepultamento.

Como o novo cemitério ficava distante das paróquias, foi construído uma linha de S-Bahn com mais de 4 quilômetros ligando a estação de Wannsee ao cemitério  Südwestkirchhof Stahnsdorf. A linha entra em funcionamento em 1913 e transportava não somente as pessoas ao cemitério, como também os caixões, sendo que para isto foram instalados vagões especiais.  Na época a linha era popularmente chamada de “expresso da viúva”ou “linha do defunto”.

Entrada para o bloco dos soldados italianos

Após a Primeira Guerra Mundial, os governos britânico e italiano adquiriram cerca de 1 hectare cada um para sepultar seus soldados que morreram como priosioneiros de guerra da Alemanha.

Durante o período nazista, por conta dos planos do arquiteto Albert Speers para transformação de Berlim em “Germania” cerca de 15 mil túmulos foram transferidos para Südwestkirchhof Stahnsdorf, uma vez que antes de encontravam em cemitérios que estavam no meio do planejado Eixo Norte-Sul. Por isto que no cemitério se encontram túmulos mais antigos que o próprio cemitério.

Túmulo entre os arbustos

Com o fim da 2ª. Guerra Mundial e a divisão da Alemanha, o cemitério Südwestkirchhof Stahnsdorf ficou do lado Oriental. À partir de 1953, os berlinenses ocidentais só podiam visitar seus mortos com autorização especial. Com a construção do muro de Berlim em 1961 o cemitério cai no isolamento uma vez que está em território de fronteira. Neste mesmo ano a linha de S-Bahn para de funcionar, os trilhos são desmontados e mais tarde a antiga estação já degrada e em ruínas é demolida. Neste período o cemitério degrada e no início dos anos 1990 acontecem somente 80 sepultamentos por ano.

Endereço: Bahnhofstraße, 2 – Stahnsdorf – 14532

Horário de Funcionamento:
De 1º. de abril a 30 de setembro: Das 7 às 20 horas
De 1º a 31 de outubro e de 1º a 31 de março: Das 7 às 18 horas
De 1º de novembro a 28 de fevereiro: Das 8 às 17 horas 

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