No bairro Hohenschönhausen, na região nordeste de Berlim, em uma área relativamente isolada encontrava-se a prisão da Stasi – a polícia secreta da Alemanha Oriental. Ao longo de mais de 4 décadas, por ali passaram milhares de prisioneiros políticos. Desde 1994 funciona como um Memorial para lembrar as vítimas da ditadura comunista na Alemanha, documentando e informando sobre as formas de opressão e perseguição feitas pelo regime.
Muito bem preservadas, as instalações desta antiga prisão podem ser visitadas. As visitas são feitas em grupos e guiadas. E via de regra quem nos mostra e nos conduz pelos corredores e celas são antigos prisioneiros que não somente nos conta a história desta prisão, mas também sua história pessoal. Por experiência própria o guia nos fala sobre as condições na prisão, nos conta e mostra os métodos de interrogação e as torturas psicológicas aplicadas pela Stasi.
O guia que conduziu nosso grupo foi preso pois tentava fugir da Alemanha Oriental. Sua rota de fuga passava pelos países do bloco socialista para chegar até a Turquia, de onde ele pretendia ir para a Alemanha Ocidental. Mas ele foi pego na Bulgária, onde inicialmente ficou preso até ser mandado para Hohenschönhausen em Berlim. Após meses na prisão ele teve sua liberdade comprada pela Alemanha Ocidental por 100 mil marcos.
O governo da Alemanha Ocidental gastou bilhões ao longos dos anos comprando a liberdade de presos políticos do regime comunista. E não somente de pessoas conhecidas, como políticos, jornalistas ou artistas, mas em sua grande maioria cidadãos comuns como foi o caso deste rapaz, que era um simples jovem em busca de liberdade.
Esta para mim é uma das visitas mais interessantes para se fazer em Berlim com relação à história do país. Poucos lugares são tão bem preservados como esta prisão da Stasi e, acima de tudo, raramente temos a oportunidade de conhecer um lugar histórico com uma pessoa que viveu os acontecimentos e pode contar os fatos por experiência própria.
Os tours duram cerca de 90 minutos e eles recomendam se registrar previamente online para um tour. As visitas conduzidas em inglês acontecem diariamente às 10:40, 12:40 e 14:40hs.
O local abriga ainda uma exposição intitulada “Preso em Hohenschoenhausen”, cujo acesso é gratuito, que documenta com fotos e objetos as vivências das vítimas durante seu aprisionamento em Hohenschönhausen.
A história da prisão da Stasi Hohenschönhausen
A história desta prisão começa já com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945. Hohenschönhausen se encontrava na zona ocupada pelo soviéticos e estes confiscam um prédio industrial onde antes funcionava uma grande cozinha. Este prédio e mais algumas barracas passam a funcionar como o “Campo especial No. 3”, que servia como uma prisão de transição, ou seja, ali eram reunidos e mantidos temporariamente prisioneiros até serem transferidos para outros campos, como para o campo Sachsenhausen (os soviéticos utilizaram como prisão por anos alguns dos campos de concentração dos nazista).
A ordem soviética era prender “elementos inimigos” como espiões, terroristas, ativistas do partido nazista, funcionários do governo, integrantes da polícia secreta e do serviço de inteligência. Mas à partir de 1946, também vão sendo mandados para esta prisão críticos da ocupação soviética e do SED, o partido socialista.
Em outubro de 1946, o “Campo especial No. 3” é fechado e os prisioneiros transferidos para outros campos. Até esta data mais de 20 mil pessoas passaram pelo “Campo especial No. 3” e estima-se que cerca de mil pessoas tenham morrido em decorrência das más condições de higiene, alimentação insuficiente e falta de assistência médica.
Entre o final de 1946 e início de 1947, os soviéticos transformam o “Campo especial No. 3” na principal prisão da Polícia Secreta Soviética na Alemanha. Agora são construídas por prisioneiros celas no porão do prédio da antiga cozinha. Devido suas características, os prisioneiros chamam esta área de “submarino” – as celas eram sem janelas, sem aquecimento, com paredes úmidas e ficavam com luzes ligadas o dia inteiro. Os interrogatórios aconteciam via de regra a noite e os prisioneiros sofriam torturas físicas e psicológicas.
Além das pessoas suspeitas de fazerem parte do regime nazista, foram aprisionados aqui principalmente possíveis oponentes políticos, como membros dos partidos sócio-democrata, cristão e liberal. Aqui também são aprisionados comunistas e oficiais soviéticos acusados de falta de lealdade ao partido comunista.
À partir de 1951, o “Ministério para a Segurança do Estado” – que foi criado um ano antes e que é abreviado e conhecido como Stasi, assume o prédio e passa a utilizá-lo como seu principal centro de detenção preventiva. No final dos anos 50, prisioneiros de um campo de trabalho vizinho são forçados a construir um novo prédio com mais de 200 celas e salas para interrogatório. O “submarino” deixa então de ser usado e o prédio novo passa a ser a prisão principal da Stasi até 1990.
A lista de detentos nesta prisão vai desde líderes dos protestos em junho de 1953, passando por testemunhas de Jeová a críticos do partido e do regime. Com a construção do Muro de Berlim em 1961 são aprisionados em Hohenschönhausen também pessoas que tentaram fugir ou queriam deixar a Alemanha Oriental.
Os métodos utilizados nos interrogatórios para conseguir uma confissão vão sendo refinados – ao invés de tortura física, são usados torturas psicológicas como isolamento, ameaça a familiares e amigos, privação de sono (os prisioneiros podendo ser acordados a cada 3 minutos), mudanças contínuas na tempertaura da cela. Pessoas são treinadas para desestabilizar e destruir o prisioneiro psicologicamente.
A prisão Hohenschönhausen se encontrava em um bairro residencial, mas dentro de uma área militar restrita. E oficialmente não existia – nos mapas de Berlim Oriental a área era marcada como um espaço vazio. As pessoas que moravam nas imediações eram fiéis ao regime e via de regra integrantes da Stasi. Com a queda do muro de Berlim e a reunificação da Alemanha, a prisão da Stasi é oficialmente fechada em outubro de 1990.
Preço: Clique aqui para ver
Endereço: Genslerstraße 66 – Lichtenberg – 13055
Como Chegar:
Na Alexanderplatz pegar a linha M6 do tram (bondinho), direção: Riesaer Str. e descer na parada “Genslerstr.” ou ainda a linha M5, direção: Zingster Str. e descer na parada “Freienwalder Str.”. A viagem dura 30-35 minutos. Da parada “Freienwalder Str.” até a entrada da antiga prisão são cerca de 600 metros e da parada “Genslerstr.” são cerca de 900 metros.
Atrações Próximas: Museu da Stasi